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quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Santo Expedito, a fazenda que cultiva vida


A entidade que se dedica a recuperar dependentes químicos baseia o tratamento em trabalho, disciplina e oração

Salvar vidas, dar uma segunda chance, reacender a chama da esperança. A recuperação de dependentes químicos é a razão de existir da Comunidade Terapêutica Fazenda Santo Expedito. Encravada em quatro hectares na localidade da Cachoeira, a entidade acolhe viciados em drogas e se sustenta em três pilares: oração, trabalho e disciplina. Enquanto a pessoa se desintoxica, aprende a enxergar que o mundo também pode ser encarado de cara limpa.

A propriedade é particular. Só recebe homens maiores de idade. A capacidade máxima é de 40 pessoas. Hoje são 32 residentes. O calmo clima interiorano de algum modo contrasta com as regras de disciplina que norteiam a fazenda. Os internos são responsáveis por fazer a casa funcionar. Preparam o almoço, organizam o alojamento, plantam e até limpam o curral.

O trabalho ocupa a mente de forma saudável. Tudo é acompanhado pelos quatro monitores, que são os responsáveis pelo bem-estar dos pacientes. “Trabalhamos com o sistema de residência. São nove meses de tratamento. Os seis primeiros são diretos, recebendo visita dos familiares no segundo domingo de cada mês. Após eles saem por uma semana para o chamado período de ressocialização e depois voltam”, destaca o diretor de tratamento Silvio Reis de Jesus.Ele explica que há um cronograma a ser respeitado. “Há horário pra tudo. Temos um grupo de oração, grupos de trabalho e contamos com voluntários que nos auxiliam. Sempre na última quarta-feira do mês, somos os responsáveis pela missa na Igreja Matriz”, ressalta.

O ambiente da Santo Expedito é amplo e bem cuidado. Possui horta, capela, pátio verde, campo de futebol. Ali são criadas vacas e porcos. E cães saltitantes recebem os visitantes, fazendo a alegria do local. Não há muros enormes nem seguranças por todos os lados. Apenas uma cerca de arame liso e uma porteira separa os dependentes da rua. Fuga? Nunca aconteceu. Se alguém quiser desistir do tratamento, basta comunicar a direção e posteriormente a família.

A vontade de largar tudo durante as crises de abstinência se manifesta de diversas formas. A saudade da família, a vontade de “cair no mundo” e a chamada doença do autoengano” - quando o viciado acredita estar livre sem ter completado o tratamento - são os principais obstáculos. “Nós conversamos com eles nos momentos de crise. Tentamos convencê-los de que é melhor ficarem conosco. Se não temos êxito, avisamos os familiares”, enfatiza. A maior luta dos viciados, diz Sílvio, é contra eles mesmos.

O início da nova jornada é marcado pela estranheza. Ambiente novo. Pessoas desconhecidas. E regras, disciplina - algo que é fundamental, mas faz muita falta. Alguns ficam muito nervosos por causa da falta da droga. “Nós mandamos a pessoa para avaliação psiquiátrica quando necessário. Se for prescrito o uso de medicamentos, nós administramos”, relata o diretor, apontando para um armário chaveado. Para o dependente químico não há cura definitiva, mas um tratamento permanente.

70% de Recuperação

O índice de recuperação é alto. Desde o começo das atividades da Fazenda, em 1° de novembro de 2006, cerca de 70% dos residentes se recuperam. Entre os que desistem, em torno de 95% voltam a ser reféns do tráfico. O crack é a droga mais comum e a que mais vicia. “Os mais novos geralmente vão direto para o crack, nem passam por outras drogas. O vício normalmente é casado com o álcool. Um leva ao outro”, desabafa.

O usuário procura ajuda quando não tem mais nada. Já furtou, gastou todo seu dinheiro, perdeu seu emprego, às vezes até a família. Sem dignidade, encontra-se no “fundo do posso”. A entidade só abriga maiores de 18 anos, mas famílias que necessitam de orientação para encaminhamento de menores à desintoxicação podem entrar em contato.

Os pais podem perceber se um filho, amigo ou parente se tornou drogado observando as companhias, comportamento agressivo, baixas notas na escola, além de horários que saem e chegam em casa. “Existem grupos de auxílio às famílias, como o Amor Exigente, que estamos iniciando em Portão. A Escola Pedro Schüler mantém um grupo de autoajuda, preservando o anonimato”, destaca o diretor.

A instituição trata pessoas de diversas cidades. Hoje há pacientes de Caxias do Sul, São Marcos, Novo Hamburgo, São Leopoldo, Esteio, Sapucaia do Sul, Canoas, Gravataí e Porto Alegre. Informações podem ser obtidas pelos telefones 97266103, 84377336 e 85238957.

O usuário que iniciou aos nove, bebendo em aniversário

Começou quando ele tinha nove anos. Felipe Carvalho*, hoje 29, morava em Canoas. Tinha uma família normal, estudava, tinha amigos. Supostos amigos, na verdade, pois eles o levaram
para um mundo de dor, agonia e sofrimento. A primeira experiência foi com o álcool em uma festa de aniversário, quando tomou um porre de vinho. Aos 11 anos, teve o primeiro coma alcoólico bebendo suco de uva com vodka. Com 14 experimentou maconha. “Eu queria ingressar em um ciclo de amigos. Me sentia excluído se não fizesse também”, relata. A cocaína chegou aos 17 anos. E o crack dois anos depois.

No começo era pouco. Finais de semana, quando saía com amigos. Durante a semana trabalhava como estoquista, conseguia se sustentar, vivia bem, mas queria mais. Dominava o vício. Não imaginava que se tornaria dependente. Com o passar do tempo, foi se drogando uma vez por semana, depois duas e assim seguiu até tornar-se um hábito diário. “Eu sentia uma euforia muito grande, uma sensação de liberdade, de poder”, recorda-se. O jovem tinha um avô alcoólatra. Nas “bocas”, descobriu que seu pai também era usuário de droga. “Minha mãe se separou dele por causa disso”, lamenta.

Em razão do vício, Felipe perdeu o emprego. Suas contas chegavam a R$ 5 mil por semana. Como não trabalhava, começou a furtar. Primeiro em casa, depois na rua. “Na hora eu agia sob o efeito da droga. No outro dia vinha o arrependimento. Só não fui preso porque me escondia nos cantos dos pátios.”

Foram sete anos sem limites nem lei. O rapaz batalhador se transformou em um homem agressivo e grosso, principalmente com as pessoas que mais gostava. Chegou a ponto de tentar o suicídio. De cara com o fim, ouviu conselhos e entrou no grupo de autoajuda Amor
Exigente. Durante dois meses freqüentou as reuniões, depois voltou às ruas. “Tinha a mente muito fechada, achava que podia sozinho, mas me enganei”, reconhece.

Em 2001, Felipe concluiu o primeiro tratamento em uma clínica de recuperação. Seguiu o programa longe das drogas durante um ano e meio. Voltou a beber e dali a um mês se entregou para a cocaína. “Nunca consegui ficar no primeiro gole, porque é uma obsessão mental. Me acomodei, sentia medo das responsabilidades, medo de fazer um dia melhor”, desabafa. Segundo ele, a pessoa que quer se recuperar não pode depender dos outros. Precisa crer em si.

Entre os períodos de tratamento e recaídas conheceu Anelise Rocha*, uma moça batalhadora, cara limpa. Namoraram. Moraram juntos. Ela engravidou, mas aos quatro meses perdeu o bebê. “Ela começou a sentir dores, pedia ajuda, mas eu estava bêbado, sem condições de socorrê-la. Foi um dos piores momentos da minha vida”, revela.

Depois de convulsões e duas paradas cardíacas, Felipe apostou na última chama da esperança. Procurou a Fazenda Santo Expedito para se salvar. “Do hospital vim direto pra cá. Senti que era a minha última chance. Se eu recair depois daqui, não vou ter coragem de acender de novo. Tive várias chances e não aproveitei. Essa é a última”, exclama o jovem que tem na cocaína a sua pior inimiga.

Hoje ele se diz um homem mudado. Tem fé. Por toda a vida iniciava as coisas, mas nunca terminava. Segue o cronograma, trabalha, lava suas roupas, ajuda na cozinha. Dá o melhor de
si por si mesmo. “Droga lembra só tristeza, família chorando. Quero dar valor às pequenas coisas, à minha vida. Quero ser um vencedor, só por hoje, e assim por diante”, enfatiza.

Felipe está casado com Anelise, mora em Sapucaia do Sul e é pai de um menino de três anos. Seu sonho agora é passar para o filho a experiência de um pai verdadeiro e ensiná-lo a viver
feliz sem drogas.

***A pedido do entrevistado os nomes foram trocados.

Postado por: Franceli Stefani
Postagem baseada no livro "Visconde Partido ao Meio", de Ítalo Calvino

1 textaram:

Anônimo disse...

oi tenho 39 anos casado pai de 4 filhos lindo gostaria muito de uma oportunidade sou dependente quimico me ajudem eu presciso sou tecnico mecanico a 20 anos sou bom no que trabalho mas perdi a credibilidade amos meus filhos alguem poode me ajudar ... grato desde ja obgrigado pelo carinho de oubir um drogado . jairo.valentin06@hotmail.com ... 19989763077 zap 19 989348730